sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Grande



 
Os habitantes de três grandes nações viviam um momento de intensa celebração. Festejavam a colheita abundante, as sucessivas vitórias nas batalhas, a ampliação dos seus territórios e a paz advinda da aliança estabelecida entre as três - que eram as maiores nações.
Encontrou-os assim um oráculo conhecido pela precisão de suas previsões. Tão logo chegou o ilustre visitante e já trouxe grande desconforto ao prever para as três nações uma grande tragédia.

A primeira nação entrou em luto, pôs-se a lamentar, rasgou suas vestes e, por todos os lugares que se percorria nela, havia sempre alguém a lamentar a inevitável tragédia que lhes sobreviria. Estagnação e desalento logo dominaram a nação que teve certeza da sua extinção.

A segunda nação acionou o setor de economia, cortou gastos e passou a viver com o mínimo para poupar provisões a fim de usá-las no momento em que a tragédia chegasse. Em todas as suas ruas via-se pessoas correndo de um lado para o outro, semblantes fechados e grande preocupação com o futuro. Os moradores viviam próximos a tudo que conseguiram juntar e acreditavam que, por mais que tivessem provisões, elas nunca seriam o suficiente para evitar sua extinção.

A terceira nação também muito se alarmou. Reconhecendo que lidavam com um grande problema, resolveram então entender melhor o que estava por vir. Levantaram informações sobre o tipo de tragédia que poderia acontecer, quem seria mais atingido, quem poderia sobreviver a ela e o que restaria após a tragédia. Gastaram tempo a partir daí, em criar estratégias de proteção, desenvolver as habilidades que descobriram ser relevantes para a sobrevivência e planejar para reconstruírem o que se perdesse. Em muito tempo não se via tamanho interesse e crescimento coletivo naquelas paragens. Dizem que esta nação existe até hoje e é denominada de “A Grande”.

Dos que lamentam, dos que trabalham para o mínimo ou dos que buscam soluções?


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Infância

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Suspiros e brigadeiros 
Criança precisa de respeito
E ter garantidos os seus direitos

Pião, boneca e cocada

Ser olhada com amor
Ser orientada
E não enxotada


Pique-esconde, banana caramelizada

Ter tempo para brincar
E não agenda lotada
Ter seu tempo de infância respeitado
Não ter a sexualidade logo cedo despertada

Bola de gude, de futebol e gurizada

Nos olhos ser olhada
Receber limites claros
E não apenas ser mimada

Pipoca
Abraço apertado
Banho de mangueira
Doce de leite
Beijo açucarado
Pipa
Princesa
Fantasias
Se encante e respeite
Este tempo em que tudo se inicia
E sob o qual se caminhará
Pelo resto da vida!

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Em um mundo em que 24 horas é pouco para tantos projetos e até nossas crianças andam de agenda lotada, vale a reflexão da leitura deste conto !

...o avô visitou a casa dos seus filhos, sentou-se na sala e ordenou que o neto saísse. Queria falar, a sós, com os pais da criança. E o velho deu entendimento: criancice é como amor, não se desempenha sozinha. Faltava aos pais serem filhos, juntarem -se miúdos com o miúdo. Faltava aceitarem despir de idade, desobedecer ao tempo, esquivar-se do corpo e do juízo. Esse é o milagre que um filho oferece - nascermos em outra vida.

Trecho do conto O Rio das quatro luzes de Mia Couto 
Disponível em https://www.publico.pt/2001/08/27/jornal/o-rio-das-quatro-luzes-161160 

Sendo miúdo com o miúdo



 

sábado, 16 de setembro de 2017

Melhor comparado a quê? Quem?

"O olho direito não deve ser comparado ao esquerdo para percebermos a sua evolução, para o considerarmos melhor. É preciso compará-lo consigo mesmo, como se comporta, após a cirugia, diante de uma mesma circunstância já exposto anterior á cirugia" disse o cirurgião oftalmológico ao meu marido após a cirugia a laser.

Ele tinha muitas expectativas sobre a sua visão. Fiquei pensando como seria se aplicássemos este mesmo conceito  aos seres humanos.

Quem sabe estejamos levando a teoria de coletividade aristotélica a sério demais e  chegando á mesma conclusão de Sartre de que o inferno é o outro.

De repente porque é preciso um olhar para nós mesmos diante de uma mesma circunstância no passado e depois lançar este olhar reflexivo para o presente a fim de percebermos se estamos melhores ou não.

E há sempre a opção de escolher "o outro" a quem comparar de acordo com os sentimentos que queremos reafirmar.